CHAMADA DE ARTIGOS | Configurações: Revista de Ciências Sociais N.º 38/Dezembro 2026 – Dossiê Temático “CUIDANDO DO COMUM: CULTURAS E CONTRACULTURAS EM PORTUGAL”
CHAMADA DE ARTIGOS Configurações: Revista de Ciências Sociais N.º 38 – Dezembro de 2026 Cuidando do comum: culturas e contraculturas em Portugal Coordenação do Dossiê: Ana Luísa Luz (Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, ORCID ID 0000-0002-4276-1938), Cristina Parente (Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, ORCID ID 0000-0002-7500-7050), Marta Nieto Romero (SOCIUS/ISEG/Universidade de Lisboa e Malha Cooperativa/RIZOMA, ORCID ID 0000-0001-8247-9569), Marta Pedro Varanda (SOCIUS/ISEG/Universidade de Lisboa e Malha Cooperativa/RIZOMA, ORCID ID 0000-0002-9762-2724) |
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Nos últimos dois séculos, o sistema capitalista tem regido o contrato social, i.e., as relações económicas, sociais e afetivas, incentivando o individualismo como força motriz de uma sociedade e economia modernas. A aposta no desenvolvimento técnico-científico como meio para o crescimento económico intensificou a produção, desligando-a dos processos ecológicos e alterando profundamente a relação entre as pessoas, mas também entre as pessoas e o meio. Elevando o saber científico acima do tradicional-ancestral, abriu-se caminho para a exploração descontrolada de recursos vitais de comunidades indígenas e locais, de ecossistemas e combustíveis fósseis, com efeitos na destruição daquilo que reconhecemos como “comum”, i.e., tudo aquilo que partilhamos, recursos, mas também relações sociais, conhecimento e formas de cooperação. Destruindo as condições que permitiam às comunidades locais sobreviver e viver com autonomia, eliminamos igualmente a sua capacidade de reprodução de modos de vida e cosmovisões baseadas em relações seculares com os ecossistemas onde habitam. Num período em que a maior parte da riqueza do planeta se encontra nas mãos de 1% da população mundial enquanto a maioria se encontra dependente de trabalho assalariado assegurado pelo Estado ou pelo mercado, o vínculo humano “à terra” e ao próximo é cada vez menor. As relações humanas, outrora de proximidade, ancoradas em laços solidários e duradouros, de reciprocidade e confiança, assumem agora contornos frágeis e descartáveis, funcionalistas e efémeros, construindo, na expressão de Zygmunt Bauman, uma modernidade líquida, volátil e em constante mudança. Por outro lado, as desigualdades tornaram-se mais vincadas e o “outro” sobretudo num problema a resolver. Neste contexto, a política extrema-se e as guerras eclodem, fala-se de emergência – climática e humana. Num cenário que roça o distópico, estruturas sociais autónomas com base comunitária permanecem, enquanto outras se desenvolvem em diferentes contextos, prefigurando uma mudança de paradigma num mundo onde a gestão pública foi enfraquecida por décadas de políticas neoliberais. Modos de produção extensivos, solidários, que fomentam economias diversas (Gibson-Graham e Dombroski, 2021), sejam estas feministas, familiares, populares ou solidárias, promotoras de sustentabilidade enquanto retomam formas orgânicas de regulação da produção e de consumo. Iniciativas ancoradas na cooperação, autogestão e comunhão de interesses como base para a ação surgem nos campos e na cidade, nas organizações, nas comunidades, num mundo esgotado de destruição, conflitos e solidão. Com esta chamada, pretendemos gerar uma reflexão sobre estas questões, colocando o foco em iniciativas coletivas que garantem a produção e o cuidado do comum. Partindo do trabalho de autoras feministas como Graham-Gibson (2016), Gutierrez (2020), Nightingale (2019), Casas-Cortes (2019), Singh (2018), entre outras, definimos a produção e o cuidado do comum como todas as práticas e relações de cooperação e entreajuda, mas também de luta e resistência, que sustentam a reprodução material e simbólica da vida, humana e não humana. Interessa-nos pensar e vincar a forma como o quotidiano do cuidado – e.g. dialogar, cozinhar, reflorestar, etc. – politiza por via da resultante aquisição de novos conhecimentos, capacidades, relações e subjetividades que nos ligam afetivamente ao que cuidamos (bosque, terra, comunidade), aproximando-nos enquanto agentes de mudança. Incentivamos trabalhos sobre iniciativas em território português que desafiam a tendência individualista – e.g. regimes de propriedade comunitária, empresas, cooperativas, economia social e solidária, economia popular e familiar, economias feministas e dos cuidados. Através da sua análise crítica, queremos refletir sobre a diversidade dessas iniciativas ao nível das suas práticas, valores, objetivos, estrutura e efeitos de mudanças no território, aqui entendido como o espaço constituído por ecossistemas, infraestruturas, atores e instituições, mas também saberes, cosmovisões, discursos, valores, etc. Com esta abordagem, queremos abrir vias para uma nova cultura e formas de ação que sustentem um novo contrato social. Entre as diversas linhas de reflexão, propomos: 1.dar a conhecer e refletir sobre as práticas quotidianas envolvidas na produção e cuidado do comum, que podem incluir:
2. análise crítica da estrutura institucional das sociedades atuais que desconstrói o comum ou ameaça iniciativas que cuidam o comum, constituindo processos de descomunalização (do inglês un-commoning), que podem concretizar-se em:
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As propostas devem ser submetidas eletronicamente após realização de registo na plataforma, até ao dia 01 de setembro de 2025. Recomenda-se vivamente aos/às autores/as a leitura atenta das normas de publicação. |
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