11º Seminário Almoços CICS

 

A 24 de Março teve lugar o 11º Seminário Almoço CICS, que contou com a participação da investigadora Colaboradora do Centro de Investigação em Educação (CIEd), Ana Francisca Monteiro.

Resumo abreviado: Compreender o que é ser criança, nas denominadas sociedades ocidentais da atualidade, requer um conhecimento profundo da sua relação com as novas tecnologias e da mediação tecnológica das experiências de socialização, lazer, comunicação e aprendizagem. Falar com amigos, ocupar os tempos livres e estudar são atividades que parecem depender cada vez mais do acesso a tecnologia. Seja enquanto ferramenta social ou educativa, a sua relevância está igualmente espelhada no investimento que as famílias direcionam para o acesso à internet.
Esta interação entre crianças e tecnologias está ainda investida de grandes esperanças e receios. É fácil encontrar, sobretudo no tratamento que a comunicação social faz deste tema, uma celebração das oportunidades a ela associadas e uma dramatização dos perigos. São paradoxalmente populares a ideia de que estamos perante uma geração digital, líder na exploração das oportunidades que o digital encerra e a previsão de que a infância está destinada a desaparecer, corrompida pelas informações agora ao alcance das crianças e os comportamentos nelas provocados.
Este projeto surgiu neste contexto com dois propósitos centrais: i) numa perspetiva mais sociológica, compreender a relação entre crianças e novas tecnologias e os sentidos de que estas se revestem, na perspetiva das próprias crianças; ii) numa ótica educativa, contribuir para a promoção de um equilíbrio entre oportunidades e riscos das novas tecnologias que potencie as primeiras e reduza as consequências negativas dos segundos. Partindo do pressuposto de que as crianças são agentes sociais ativos que constroem as suas próprias cultura, esta abordagem privilegia os seus pontos de vista. Procura assim compreender estes fenómenos a partir dos significados e códigos socioculturais que as próprias crianças constroem.
Nesta comunicação serão apresentados os resultados finais deste trabalho. Com base numa abordagem etnográfica, ele realça como as crianças i) desenvolvem sentidos de pertença e identidade através da apropriação de novas tecnologias, ii) problematizam aspetos relativos à aceitação social e reputação; iii) valorizam as questões de segurança a partir de reinterpretações específicas; iv) encaram com ambiguidade conceitos como o de estranho e vício; v) esvaziam de sentido o conceito de oportunidade. Em conclusão, esta pesquisa destaca, por um lado, como as crianças criam os seus próprios mundos socioculturais e espaços de autonomia através das novas tecnologias; por outro, como as medidas destinadas a beneficiar ou proteger as crianças online se distanciam das suas próprias culturas, podendo tornar-se excessivamente prescritivas e estigmatizantes. Defende-se uma abordagem mais situada destas temáticas, capaz de valorizar as culturas das crianças e considerar as circunstâncias e contextos socioculturais em que as suas experiências digitais ocorrem e ganham sentido.

Nota biográfica: Doutorada em Estudos da Criança, especialização Tecnologias de Informação e Comunicação pelo Instituto de Educação da Universidade do Minho, sob a orientação do professor António José Osório. Obteve o título de doutoramento europeu, na sequência do trabalho desenvolvido na Universidade de Loughborough, Reino Unido, sob a orientação do professor David Buckingham. Investiga, desde 2007, o papel das novas tecnologias na vida das crianças, seus riscos e oportunidades, na sua própria perspetiva. Iniciou a carreira de investigação enquanto bolseira de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Atualmente, integra o Centro de Investigação em Educação (CIEd) da Universidade do Minho como colaboradora. Trabalhou como jornalista, área em que é licenciada, antes de se dedicar à investigação. É mãe de uma menina de 3 anos.

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