4º Seminário Almoços CICS

 

Teve lugar a 19 de Junho a 4ª Sessão do Seminário Almoços CICS, com a apresentação da comunicação “Trajectórias de vida de reclusos e reclusas: Interseccionando classe, nacionalidade/etnia e género” por Sílvia Gomes, Doutoranda do CICS.

Nesta comunicação pretendeu-se analisar as diferenças entre os indivíduos de etnia cigana e os indivíduos nacionais dos PALOP e do Leste europeu na sua relação com o crime, estudando as suas posições de vida objectivas e trajectórias de vida. Procurou-se, por um lado, identificar as causas da criminalidade e, por outro lado, o papel e possíveis implicações da atribuição do rótulo criminoso aos grupos acima referidos por parte dos moral entrepreneurs.
As teorias sociais sobre o crime oferecem-nos uma panóplia de propostas para compreender e explicar as dinâmicas de criminalidade e de processos de rotulagem e estigmatização. No contexto dos estudos que articulam o crime com alguma(s) variáveis como raça/etnicidade, classe, género, emergem situações e tipos de desigualdade social e, em particular, contextos de privação relativa, conjugando-se estes factores a nível societal ou socio-estrutural, organizacional – nomeadamente as instâncias de controlo socio-político e moral – e interactivo, na vida quotidiana.
Com base em 540 processos individuais de reclusos e reclusas, assim como em 68 entrevistas dirigidas a reclusos e reclusas dos grupos mencionados, foram analisadas as suas condições de vida objectivas – ao nível familiar, escolar, profissional, residencial – e a relação que tiveram com o sistema de justiça criminal. Tendo por base uma abordagem pluricausal, as suas experiências criminais foram vistas à luz da intersecção de variáveis fundamentais para a construção de um retrato mais completo do crime, relevando assim, em termos explicativos, a pertença de classe, étnico-nacional e de género, articulando situações de desigualdade e processos vários de exclusão e marginalização sociais (…). Em suma, as condições de vida objectiva e as respectivas intersecções de classe e género, etnicidade e nacionalidade co-estruturam o envolvimento criminal, para o que contribuem as condições institucionais e demais agentes de controlo criminal.

Breve Nota Biográfica: Sílvia Gomes é investigadora no Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho e na Unidade de Investigação em Criminologia e Ciências do Comportamento.
Licenciada em Sociologia pela Universidade do Minho (2008), é no presente estudante de doutoramento no Instituto de Ciências Sociais da mesma universidade, sob as orientações dos Professores Doutores Manuel Carlos Silva e Helena Machado. A tese de doutoramento – já entregue e a aguardar defesa pública – tem como título “Criminalidade, Etnicidade e Desigualdades: Análise comparativa entre os grupos nacionais dos PALOP e Leste Europeu e o grupo étnico cigano”. No âmbito do projecto de doutoramento, além da participação com comunicação em congressos nacionais e internacionais, participou em vários projectos relacionados com crime e delinquência. Faz também parte do seu percurso o título de visiting student researcher na Universidade da Califórnia, Berkeley, sobre a orientação do Professor Loïc Wacquant, assim como a posição de professora assistente estagiária no Instituto Superior da Maia, no curso de Criminologia.
O seu trabalho está relacionado com a criminalidade, desigualdades sociais e etnicidade, designadamente as representações sociais dos grupos étnicos e imigrantes nos media, as representações sociais dos guardas prisionais sobre os fenómenos da imigração e do crime e também as trajectórias de vida e estatísticas da reclusão feminina e masculina em grupos étnicos em Portugal.

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